Relatório CUF Oncologia 2018-2019

tratamento é eficaz, isto tem de ser validado por um ensaio clínico, que tem de ser feito algures e com as populações certas. As instituições internacionais e as autoridades regulamentares vão tornar-se cada vez mais exigentes. A questão é saber se Portugal quer participar neste grande desafio e se está preparado para ele.

"Temos de preparar toda a estrutura de saúde em Portugal para haver equidade e facilidade de acesso e todo o seguimento dos doentes." Uma doença crónica ou mesmo curável. Hoje há muitos doentes que estão curados, mas estão em risco de ter uma segunda neoplasia. E, portanto, aqui entra um segundo tipo de rastreio, que é um seguimento especial para esses doentes. Há sempre um grupo de doentes que não vão ter a cura, mas têm sempre um acompanhamento, um tratamento ou cuidados paliativos para minorar o sofrimento. E há outro grupo que queremos que seja cada vez maior, que é o grupo dos sobreviventes. E temos de os segmentar e caracterizar porque há sobreviventes com mais ou menos sequelas, com maior ou menor risco. Pode dizer-se que o objetivo é tornar o cancro uma doença crónica? e facilidade de acesso, bem como todo o seguimento dos doentes. Fazer o plano de tratamento e o seu seguimento de uma forma adequada reduz a mortalidade. Não tenhamos dúvidas: vamos ter mais cancros, mas queremos que as pessoas morram menos de cancro. Qual tem sido a importância dos ensaios clínicos na evolução do tratamento? A Oncologia hoje, a nível mundial, ronda os 50% de toda a atividade de ensaios clínicos feitos no mundo inteiro. Quando dizemos que um

Que papel pode assumir a CUF ao nível da investigação e dos ensaios clínicos? Um papel importante. Mas é preciso que as estruturas diretivas estejam cientes de que este é um setor estratégico a longo termo, que traz benefícios, melhores rotinas, melhores tratamentos, melhores práticas. E não é por acaso que este é um item que nos índices internacionais das avaliações de saúde é um fator tido em conta na avaliação da qualidade. Um dos grandes desafios da CUF é o facto de ter de se organizar de maneira a reunir massa crítica, tanto em termos de doentes como de médicos. Uma vez que é multicêntrica, cobrindo de norte a sul do país, o seu papel pode ser ampliado se tiver uma estratégia bem assertiva de quais são os ensaios em que terá mais capacidade para entrar, com que tipo de doentes e se o doente que frequenta a instituição é um doente que procura isso. No cargo que assume agora como Coordenador Nacional para Doenças Oncológicas designado pela Direção-Geral da Saúde, consegue perceber se o país está preparado? No Programa Nacional para as Doenças Oncológicas da Direção-Geral da Saúde, tentamos fazer com que isso seja prioritário. O país está preparado, mas tem grandes desafios. E os grandes desafios aqui prendem-se com o facto de termos um sistema privado de saúde ainda incipiente para os ensaios clínicos devido à falta de números. Cada vez mais os ensaios clínicos são muito setorizados e é preciso ter uma grande quantidade de doentes para depois selecionar apenas alguns. Por outro lado, no Serviço Nacional de Saúde português existe uma grande dificuldade em separar o que é o ensaio clínico e a investigação da atividade assistencial. Isto porque os problemas da investigação clínica não podem ser contaminados. Devíamos ter sistemas de gestão a nível hospitalar que pudessem separar estas duas coisas, e isso só trazia mais-valias ao país, não tenha a menor dúvida. Os problemas que temos no Sistema Nacional de Saúde português também existem noutros países, mas há uma defesa maior devido a esta separação.

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CUF ONCOLOGIA | Relatório 2018-2019

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