Relatório CUF Oncologia 2018-2019

Coragem e tranquilidade

Filho de um cirurgião, José Mendes de Almeida assistiu, ao longo da carreira – que incluiu uma passagem pela Universidade de Cornell, em Nova Iorque, e, já em Lisboa, pelo Instituto Português de Oncologia e pelo Hospital de Santa Maria –, ao impacto positivo que o desenvolvimento das terapêuticas complementares à cirurgia trouxe à patologia digestiva. “Permitiu que a doença mais avançada fosse tratada com muito bons resultados”, assegura. O cirurgião, que desde os primeiros tempos de faculdade elegeu a Patologia Digestiva como área de eleição, assume que a sua primeira missão na CUF é “tratar os doentes”, o que pelo caminho envolveu o estabelecimento de relações de grande cumplicidade, como a que ainda mantém com Sofia Silva. “O nosso grande objetivo é curar as pessoas que têm cancro ou, como prefiro dizer, restituir a pessoa à vida que tinha antes” , explica. Por seu turno, Sofia continua ligada à equipa que a acompanhou há dez anos. “Foi a minha primeira família. O Prof. Mendes de Almeida, as auxiliares e as enfermeiras davam-me sempre muita coragem. E sentir que era uma equipa muito experiente também me deu muita

Mais tarde, Sofia voltaria ao Hospital CUF Descobertas por motivos bem mais felizes: as gravidezes dos dois filhos, a primeira das quais uma autêntica surpresa, já que depois da cirurgia não era garantido que pudesse engravidar. “Mais uma vez a equipa foi maravilhosa, quer a de Oncologia, com o Prof. Mendes de Almeida, quer a Dra. Conceição Telhado, obstetra, até porque nunca tinha feito um parto a uma mulher que tivesse ficado grávida depois de retirar o estômago” , afirma Sofia. Ao longo da primeira gestação, foi acompanhada quinzenalmente pela equipa de Medicina Interna e Obstetrícia, que tudo fizeram para conduzir ao melhor resultado possível: um menino de 3,5 quilogramas, nascido por cesariana. Hoje mais realizada a nível pessoal e profissional, Sofia Silva admite que o cancro que teve há dez anos lhe mudou a vida: “A doença foi quase uma campainha a explicar que trabalhar 18 horas não era viver. Fez-me perceber que temos um ‘prazo de validade’. Costumo dizer que, quando tinha o órgão, não tinha estômago para a vida. Agora é que tenho! Nem todas as pessoas têm a oportunidade de ter um segundo take na vida.”

Sofia Silva, sobrevivente de cancro do estômago

O carcinoma do estômago é o quinto tipo de cancro mais frequente e o segundo a apresentar maior taxa de mortalidade. Nas fases mais iniciais podem obter-se taxas de cura de 97-99%. Para tal, contribuem um diagnóstico precoce e a experiência e capacidade técnica das equipas.

tranquilidade.” Tanto assim foi que, durante o internamento no Hospital CUF Descobertas, Sofia acabou por descobrir uma nova vocação: o coaching , a que se dedica profissionalmente há três anos. “Nos mais de dez dias em que estive internada, os momentos mais importantes eram quando o Prof. Mendes de Almeida ia ao quarto, o que me dava logo um otimismo profundo, e quando andava eu própria de quarto em quarto, já que me sentia um bocadinho mais em paz ao falar com os outros pacientes. Ali estávamos todos a passar por situações em que falávamos a mesma linguagem, pelo que trocarmos experiências fez com que sentíssemos a dor mais leve”, conta Sofia, para quem esta experiência revelou uma parte da sua personalidade que lhe era desconhecida. “Percebi que gostava realmente de ouvir pessoas e de entender as suas necessidades. Decidi, por isso, entrar na área do coaching e da programação neurolinguística.”

Um segundo take

Após a cirurgia, Sofia ainda ficou oito meses em casa, o que a obrigou a voltar a viver com os pais e a irmã – um apoio essencial ao longo de todo o processo. “Foi quase um período de retiro espiritual. A minha irmã forrou-me o quarto todo só com palavras positivas, como ‘alegria’, ‘força’ e ‘coragem’. Acordar a ver aquelas palavras fez-me avançar e continuar.”

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