Entrevista
Bárbara Parente
Há cancro do pulmão ou cancros do pulmão? Há cancros do pulmão. E até lhe digo: há cancros do fumador e cancros do não fumador, que têm comportamentos e respostas às terapêuticas diferentes. Qual é o retrato atual do cancro do pulmão em Portugal? A tendência ainda é crescente. E por várias razões. Primeiro, porque os malefícios do tabaco só se repercutem muitos anos depois – e o tabaco é causador do cancro do pulmão em 75 a 80% dos casos. Os homens reduziram um bocadinho os hábitos tabágicos, mas as mulheres fumam massivamente. A outra razão prende-se com o facto de termos melhores meios de diagnóstico, logo, diagnosticarmos mais. Quais são as diferenças? No cancro do não fumador, 15 a 20% dos doentes têm mutações específicas e esses têm uma excelente resposta ao tratamento. No entanto, o cancro do fumador está a ter benefícios que há uns anos eram inimagináveis, devido ao aparecimento da imunoterapia nos últimos cinco anos. Os doentes que melhor respondem à imunoterapia são os fumadores. E isso explica-se como? Têm mais mutações. O tabaco produz três mutações por minuto dentro do nosso organismo e essa multiplicidade de mutações faz com que haja maior possibilidade de resposta a esse tipo de terapêuticas. Nem todos os doentes respondem à imunoterapia, mas os que respondem fazem-no muito bem e com efeitos muito duradouros no tempo.
Laura Esteves, sobrevivente de cancro do pulmão, com o enfermeiro André Ferreira, Bárbara Parente e a gestora oncológica Susana Tuna
Quais foram as principais mudanças ao nível do tratamento desde que iniciou a carreira?
UNIDADE DE CANCRO DO PULMÃO DA CUF ONCOLOGIA A SUL
Mudou tudo. Temos meios auxiliares de diagnóstico melhores, como a PET, técnicas de broncoscopia com EBUS que permitem fazer um estadiamento melhor do tumor, e novos tratamentos sistémicos. Atualmente, em doentes com estadio IV sem mutações específicas é possível fazer terapêuticas inovadoras em mais de 50% dos casos, logo em primeira linha. A radioterapia também mudou, com técnicas sofisticadas. Temos a felicidade de ter na CUF o CyberKnife, uma técnica de radioterapia que permite fazer técnicas dirigidas num doente que tem uma metástase cerebral, por exemplo (e mais de 30% dos nossos doentes têm-nas), como se se desse um “tirinho” naquela lesão sem estragar o resto dos tecidos. E mudou também na cirurgia, com técnicas que nada têm a ver com as técnicas extremamente agressivas e invasivas de há 30 ou 40 anos. Hoje, a videotoracoscopia permite fazer uma abordagem com três centímetros e retirar a zona do pulmão doente. Ao fim de 24 horas o doente está sentado no cadeirão e em três ou quatro dias está em casa. É espetacular. Hoje podemos tratar com
A Unidade de Cancro do Pulmão do Norte, liderada por Bárbara Parente, articula-se com a sua homónima a sul, sempre que necessário, para dar resposta às necessidades dos doentes. A Unidade de Cancro do Pulmão da CUF a Sul é coordenada por António Bugalho, Pneumologista de Intervenção, tendo como corresponsável Encarnação Teixeira, Pneumologista Oncológica. A Unidade integra uma equipa de especialistas em Cirurgia Torácica, Oncologia, Radiologia, Pneumologia, Medicina Nuclear, Radioncologia, Anatomia Patológica e Cuidados Paliativos, entre outros, com ampla diferenciação e larga experiência, que discutem semanalmente todas as situações oncológicas desta área, definindo a melhor abordagem diagnóstica e a proposta terapêutica mais eficaz para cada doente, de acordo com a melhor evidência científica.
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