Relatório CUF Oncologia 2018-2019

Pela voz dos doentes e dos profissionais, a CUF Oncologia partilha o seu Relatório Bienal, dando destaque aos dados da atividade clínica e de investigação de 2018 e 2019.

CUF Oncologia Relatório 2018-2019

A EXPERIÊNCIA AO SERVIÇO DAS PESSOAS

Oncologia

ÍNDICE

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Mensagem do Presidente Mensagem da Diretora Clínica e da Coordenadora de Enfermagem Oncológica

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A NOSSA REDE NACIONAL DE CUIDADOS

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Rede de Cuidados

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Tudo o que a CUF Oncologia possibilita aos doentes e aos seus profissionais

A NOSSA MISSÃO

Números São Experiência Entrevista a José Dinis Silva As doenças oncológicas em Portugal Qualidade Clínica Investigação Médicos investigadores, equipas de suporte e ensaios clínicos Inovação e Tecnologia A tecnologia de precisão ao serviço da medicina do cancro Oferta Assistencial Coordenação Quando Referenciar Contactos Homenagem Olhar o Futuro

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Sobre a CUF Oncologia

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AS NOSSAS PESSOAS

As Nossas Equipas

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Na primeira pessoa, os profissionais partilham a sua missão na CUF Oncologia #1500razões 12 anos da Unidade da Mama CUF Entrevista a Bárbara Parente Uma vida dedicada ao cancro do pulmão Histórias Que Não Esqueço Quando os melhores cuidados se tornam histórias de sucesso

76 80 82 83 84 85

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24

34-39

CONSELHO EDITORIAL Direção de Comunicação da CUF * PUBLISHER Adagietto • R. Flores de Lima, 16, 1700-196 Lisboa * EDITOR Tiago Matos * EDITORA ADJUNTA Inês Pereira DESIGN E PAGINAÇÃO Rita Santa Marta e Sara da Mata * REDAÇÃO Sónia Castro e Susana Torrão FOTOGRAFIA António Pedrosa, Enric Vives Rubio, José Fernandes, Raquel Wise e Sérgio Azenha (4SEE) e José de Mello Saúde IMAGENS iStock e Shutterstock * PROPRIEDADE José de Mello Saúde • Av. do Forte, Edifício Suécia, III - 2.º, 2790-073 Carnaxide * PRODUÇÃO GRÁFICA Lidergraf * TIRAGEM 2 000 * DEPÓSITO LEGAL 468331/20 3 CUF ONCOLOGIA | Relatório 2018-2019

Mensagem do Presidente

Salvador de Mello

Presidente do Conselho de Administração da José de Mello Saúde

É um dos maiores combates do século XXI, se não o maior de todos: a luta contra o cancro. Uma luta desigual contra uma doença cada vez mais frequente, que só poderá ser vencida com a cooperação nacional e internacional de entidades públicas e privadas. Um combate onde todos somos poucos, só possível de travar com uma aposta contínua na investigação e nas melhores práticas clínicas. Esta é a nossa responsabilidade. Este é o compromisso que a CUF Oncologia, a maior rede privada de cuidados oncológicos em Portugal, assumiu com os seus doentes e profissionais há mais de 35 anos, quando se tornou o primeiro operador privado a dedicar-se ao tratamento do cancro, criando as melhores condições tecnológicas e humanas para o exercício de uma medicina de excelência, de cuidados de saúde humanizados, numa procura constante pela inovação no diagnóstico e tratamento das doenças oncológicas. O principal objetivo deste relatório é apresentar esta rede de cuidados, o trabalho desenvolvido e os resultados alcançados pela voz de quem melhor os conhece: os profissionais e os doentes.

Este relatório reflete os marcos mais importantes da Oncologia na rede CUF, dando destaque aos últimos dois anos de atividade, nos quais recebemos, da Ordem dos Médicos, idoneidade formativa para a especialidade de Oncologia Médica. Uma distinção que é o reconhecimento da experiência da CUF, dos seus profissionais especializados nas diferentes patologias e de uma rede que oferece um acesso rápido e preciso a um diagnóstico e a uma proposta terapêutica debatida de forma multidisciplinar. Orgulhosos do passado mas sempre de olhos postos no futuro. É por isso que a CUF Oncologia continuará a reforçar e a investir na capacidade de diagnóstico e de tratamento. Exemplo disso será o novo Hospital CUF Tejo, que irá nascer em Lisboa, desenhado de raiz para combater as doenças do futuro. Um novo centro integrado com oferta oncológica diferenciada, oferecendo mais e melhores condições em termos tecnológicos e humanos, com espaços de saber inteiramente dedicados à CUF Oncologia. Seja no passado, no presente ou no futuro, a missão, essa, será sempre a mesma: melhorar a qualidade de vida daqueles que nos procuram. Porque há vida além do cancro.

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CUF ONCOLOGIA | Relatório 2018-2019

Mensagens da Direção Clínica

Ana Raimundo E m Portugal são diagnosticados cerca de 50 mil novos casos de cancro por ano, o que constitui a segunda causa de morte no país. A sociedade e todos os hospitais portugueses não se podem alhear desta realidade. O diagnóstico correto e atempado, o estadiamento célere e o tratamento adequado em tempo útil, por profissionais com experiência que trabalham em equipa e com foco no doente, fazem toda a diferença. As publicações científicas comprovam que todos estes fatores têm impacto nos resultados e na sobrevivência dos doentes. A CUF Oncologia foi criada para dar resposta a este aumento da incidência do cancro e a necessidades cada vez maiores e mais exigentes no diagnóstico e tratamento. Ao mesmo tempo, criou condições para que profissionais das diversas especialidades médicas e cirúrgicas, com grande experiência e reconhecimento, possam trabalhar em conjunto e em articulação de modo a aumentar o sucesso e a taxa de cura. Com várias décadas de experiência no diagnóstico e tratamento do cancro, a CUF Oncologia possibilita que cada doente seja tratado, seguido e orientado de forma personalizada, tendo em conta as suas características particulares, assim como as alterações próprias do seu tumor. O objetivo é tratar cada um como um ser único, tendo em consideração as necessidades individuais e a vontade do doente. Queremos centrar os cuidados no doente e não apenas na doença. Este objetivo é conseguido com a dedicação e experiência de mais de 300 profissionais das diversas áreas e especialidades, trabalhando de forma multidisciplinar e utilizando as infraestruturas e equipamentos presentes em toda a rede CUF. Graças à excelência de preparação, conhecimentos e articulação entre os diferentes profissionais, que dedicam a sua vida ao tratamento e seguimento dos doentes com cancro, e a uma administração que acredita na inovação e melhoria contínua, tem sido possível a obtenção de importantes certificações na área da oncologia, nomeadamente na abordagem ao cancro da mama (EUSOMA) e cancro do reto (Centro de Referência, nomeado pelo Ministério da Saúde). A Direção Clínica da CUF Oncologia está empenhada e motivada para continuar a reforçar o modelo de cuidados em rede, espinha dorsal da abordagem ao cancro na rede CUF. Tem sido também fundamental o apoio e compromisso das coordenações das unidades de patologia e dos vários serviços que compõem a oferta clínica nesta área da medicina. As sinergias criadas e a colaboração de todos têm resultado no aumento consistente do número de pessoas que escolhem a rede CUF num dos momentos mais desafiantes da sua vida. A nossa missão não é apenas servir. A nossa missão é servir bem, com dedicação e humanismo, permitindo que os doentes vivam durante muitos anos, com satisfação e qualidade de vida, acompanhados por aqueles que amam. Oncologista e Diretora Clínica da CUF Oncologia

"O objetivo é tratar cada um como um ser único, tendo em consideração as necessidades individuais e a vontade do doente."

S er enfermeiro em Oncologia é mais do que o exercício de uma profissão científica e metodologicamente aprendida. É estar atento às reais necessidades das pessoas e estar focado em obter resultados concretos de satisfação dessas pessoas na condição de doentes com cancro. Na CUF Oncologia trabalhamos em equipas multidisciplinares onde os enfermeiros especialistas coordenam os cuidados, acompanhando os doentes e cuidadores ao longo de todo o percurso: no diagnóstico, no tratamento médico e cirúrgico, na gestão de sintomas e toxicidades, na fase avançada de doença e na reabilitação. Privilegiamos o envolvimento do doente no seu processo terapêutico, esclarecendo dúvidas e acompanhando a adaptação à doença. É um desafio constante reunir todo o conhecimento atualizado sobre o cancro neste mundo digital e em constante evolução. Por isto, as nossas equipas monitorizam a prática diária e procuram a formação especializada em Oncologia, uma postura essencial da enfermagem que impacta direta e positivamente nos cuidados prestados aos doentes. Na rede CUF, os nossos doentes e cuidadores contam 24 horas com o nosso apoio para qualquer orientação clínica através do projeto LADO – Linha de Apoio ao Doente Oncológico. Estamos certos de que uma equipa sempre presente lhes dá maior segurança e confiança. A intervenção do enfermeiro de Oncologia tem de ser capaz de ajudar a pessoa a lidar com a doença e a prevenir precocemente a gravidade de qualquer alteração no estado geral de bem-estar. Ao advogar as necessidades do doente e de quem o rodeia, o enfermeiro de Oncologia está a contribuir para o cumprimento do projeto de vida da pessoa com cancro. Anabela Lourenço Lobo Coordenadora da Enfermagem Oncológica da CUF Oncologia

"Ser enfermeiro é estar atento às reais necessidades das pessoas e estar focado em obter resultados concretos de satisfação dessas pessoas na condição de doentes com cancro."

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CUF ONCOLOGIA | Relatório 2018-2019

A NOSSA MISSÃO Toda a nossa experiência está ao serviço daqueles que passam por uma doença oncológica. Sabemos que no tratamento do cancro, tão importante como a investigação, a inovação ou a tecnologia é a capacidade de agir prontamente. Aqui encontrará uma equipa multidisciplinar de especialistas pronta a acompanhá-lo desde a primeira hora e não são os tempos difíceis que vivemos que nos vão impedir de estar próximos de si. Porque essa é a nossa missão. Fomos a primeira instituição privada em Portugal a diagnosticar e tratar tumores malignos. Por isso, na CUF, somos feitos da experiência de muitas pessoas e de muitas experiências como a sua. Sabemos bem o quanto a experiência conta.

Sobre a CUF Oncologia

mais robusta, com o contributo dos diferentes peritos, em cada uma das doenças oncológicas. A CUF Oncologia compromete-se com o acompanhamento próximo do doente desde o primeiro momento, proporcionado pelas equipas de enfermagem, de farmácia, de administrativos e de gestores oncológicos. A extensão no território também possibilita maior conveniência para o doente, com acesso rápido a mais de 300 especialistas e a tecnologia de ponta na abordagem às doenças oncológicas. A atuação em rede permite ainda que a avaliação inicial e o diagnóstico sejam realizados em todos os hospitais e clínicas CUF, pelos respetivos peritos, e que os tratamentos cirúrgicos, farmacológicos e de radioterapia sejam administrados nos hospitais de média ou de grande dimensão, consoante a complexidade do caso. A CUF Oncologia disponibiliza, assim, uma oferta integrada e em segurança, possibilitada pela polivalência e capacidade de resposta dos hospitais e clínicas CUF, nomeadamente em situações agudas ou crónicas. Qualidade clínica, inovação e investigação são três eixos fundamentais na nossa atuação. A procura constante pela excelência clínica conduziu à implementação de programas que atestam a qualidade clínica e de organização na Oncologia, nomeadamente nas áreas de cancro da mama e cancro do reto. A evolução tecnológica na medicina do cancro tem potenciado o investimento adequado em equipamentos de última geração, como o novo acelerador linear de radioterapia, Versa HD, instalado no Hospital CUF Descobertas, que permite tratamentos mais rápidos, mais potentes e com menos efeitos secundários. No que se refere à investigação clínica, a CUF Oncologia conta com o apoio da CUF Academic and Research Medical Center para a implementação das condições necessárias à condução de ensaios clínicos e de projetos de investigação. Através de parcerias estratégicas com laboratórios de investigação e universidades, a CUF tem contribuído para investigações oportunas, úteis e reconhecidas pelos pares a nível nacional e internacional.

MAIS DE 300 COLABORADORES E UMA MISSÃO

U ma rede que procura oferecer sempre a melhor resposta, não se esgotando na oferta interna mas abrindo-se ao exterior, garantindo a melhor proposta terapêutica e a mesma qualidade de cuidados. Atualmente, conta com uma direção clínica nacional constituída por quatro médicos e está organizada em 12 Unidades de Patologia que dão resposta às necessidades de diagnóstico e tratamento do cancro, a norte e a sul do país. Cabe a estas unidades de patologia a definição e implementação dos recursos necessários, percursos clínicos, protocolos e indicadores de performance operacional e de qualidade clínica transversais, no âmbito da sua patologia. Desta forma, a CUF Oncologia oferece cuidados oncológicos com o mesmo nível de diferenciação e qualidade ao longo de toda a rede. A organização de reuniões multidisciplinares por patologia foi fundamental na construção desta atuação em rede, possibilitando uma discussão É hoje a maior rede de cuidados oncológicos privada em Portugal, interligando mais de 300 profissionais e os recursos tecnológicos da rede CUF num modelo assistencial estruturado por patologia.

SABIA QUE... A CUF foi o primeiro prestador de saúde privado a criar uma unidade de Oncologia estruturada e de acordo com as práticas internacionais vigentes na época.

Equipas clínicas experientes e de grande competência

Cuidados humanizados centrados na pessoa

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Respeito pela relação médico-doente CONFIANÇA

APOIO PERMANENTE Apoio de enfermagem 24 horas

PROXIMIDADE gestoras 12

hospitais e clínicas CUF ligados entre si

oncológicas dedicadas

Mais de 300 profissionais dedicados ao tratamento do cancro

Integração e oferta completa de cuidados

Rapidez no diagnóstico, decisão multidisciplinar e monitorização de níveis de serviço conduzem à Qualidade Clínica

Acumulado 2018 e 2019

novos diagnósticos oncológicos 8 850

doentes tratados 8 000

A CUF Oncologia tem o apoio da oferta completa de serviços dos hospitais e clínicas CUF, 24 horas e gghklgv todos os dias

todos os dias

7 400 casos discutidos em Reunião Multidisciplinar de Decisão Terapêutica Acumulado 2018 e 2019

A rede CUF é o Portugal a diagnosticar e tratar o cancro maior

prestador privado de saúde em

A CUF Oncologia tem capacidade de traçar um diagnóstico de cancro em menos de 48 horas

Inovação, investigação e formação

A Unidade da Mama CUF de Lisboa é certificada pela Sociedade Europeia de Especialistas em Cancro da Mama

A CUF Oncologia possui o único equipamento de CyberKnife no país

Estabeleceu duas parcerias para sequenciação genómica dos tumores, contribuindo para tratamentos mais personalizados

A CUF Oncologia é Centro de Referência de Cancro do Reto nos hospitais CUF Descobertas e CUF Infante Santo

31 ensaios clínicos abertos em 2018 e 2019

Idoneidade Formativa: Anatomia Patológica e Oncologia

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CUF ONCOLOGIA | Relatório 2018-2019

Cronologia

JUNHO European Low Glioma Network pela primeira vez em Portugal Catarina Viegas, neurocirurgiã da CUF, liderou o encontro deste grupo restrito de especialistas internacionais em glioma difuso de baixo grau

DOIS ANOS DE EVOLUÇÃO Nos últimos dois anos, a CUF Oncologia e os seus profissionais investiram no crescimento e na evolução dos seus serviços e alcançaram marcos memoráveis que merecem ser assinalados.

NOVEMBRO Primeiro Encontro de Enfermagem Oncológica CUF Reuniu mais de 100 profissionais de todo o país

2018

ABRIL CUF Oncologia chega ao Hospital CUF Coimbra Helena Gervásio lidera a Oncologia deste hospital da rede CUF, no centro do país

OUTUBRO Primeiro Encontro de Cuidados Paliativos CUF Decorreu no Hospital CUF Porto

MAIO Reunião científica: Segundas Atualizações em Cancro do Pulmão (Lisboa)

MARÇO Biobanco de Pulmão no Hospital CUF Descobertas Este projeto nasceu de uma parceria com o Instituto de Medicina Molecular

DEZEMBRO Nomeação da nova Direção Clínica da CUF Oncologia

MARÇO Lançamento do programa #1500razões para Estarmos Próximos

OUTUBRO Sara Parreira, enfermeira da CUF Oncologia, recebe prémio de mérito da Sociedade Europeia de Enfermagem Oncológica

MAIO Reunião científica da Unidade da Mama: "Escalar ou Descalar o Tratamento em Cancro da Mama" Terceiras Atualizações em Cancro do Pulmão (Porto)

2019

JANEIRO Ao seu LADO – Linha de Apoio ao Doente Oncológico Atendimento telefónico de enfermagem 24 horas por dia

SETEMBRO CUF obtém idoneidade formativa em Oncologia

NOVEMBRO Prémios Pfizer premeiam investigação que conta com parceria da CUF Oncologia A investigação identificou um marcador preditivo de resposta à quimioterapia neoadjuvante em mulheres com cancro da mama

Radioterapia do Hospital CUF Descobertas com acelerador linear de última geração O equipamento resultou de um investimento de quatro milhões de euros

ABRIL IKCC em Portugal CUF traz pela primeira vez a Portugal a maior associação mundial de doentes de cancro do rim

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CUF ONCOLOGIA | Relatório 2018-2019

AS NOSSAS PESSOAS A jornada de cada pessoa com cancro inclui o contributo de diferentes profissionais, cada um com o seu propósito. Com o passar dos anos, há histórias que não se esquecem e marcam quem cuida e quem recebe esse cuidado. Nas páginas que se seguem, profissionais e sobreviventes apresentam, nas suas próprias palavras, o que acreditam ser a sua missão na CUF Oncologia.

As Nossas Equipas

A Medicina e a especialidade de Anatomia Patológica estiveram desde cedo nos planos de Paula Borralho. “Sempre fui muito curiosa e sempre gostei da área de investigação”, confessa. “Ainda considerei Biologia, mas acabei por optar por Medicina. A Anatomia Patológica resumia tudo aquilo de que eu gostava, porque nos permite perceber o que está a acontecer com as nossas células e o nosso organismo, a causa da doença, como se pode tratar e o que vai acontecer com o doente. Ao mesmo tempo, estamos intimamente ligados à investigação.” Apaixonada pela profissão, Paula Borralho conta no seu percurso com uma passagem pela Mayo Clinic, nos Estados Unidos, e com uma especialização feita no Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa. A tempo inteiro nos hospitais na CUF desde 2011, também leciona Anatomia Patológica na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. “É muito recompensador perceber que ensinamos pessoas que depois crescem, se diferenciam e se tornam profissionais responsáveis e competentes”, afirma a médica, que também continua a fazer investigação em Oncologia e na área da doença inflamatória intestinal. Afinal, segundo refere, o que a trouxe para a Medicina foi “a colaboração em projetos de investigação”. e qualidade do diagnóstico, pois são fatores essenciais para um bom prognóstico: “Temos tido muito cuidado com a rapidez de diagnóstico. Criámos vias verdes para todos os casos em que suspeitamos que possa haver uma neoplasia. Em muitos casos, conseguimos resultados de um dia para o outro.” Um trabalho que no futuro próximo poderá ganhar novas armas através da generalização do diagnóstico molecular para diferentes tumores e genes, bem como com a entrada em cena da patologia digital, que Paula Borralho vê como um “enorme avanço”: “A patologia digital com recurso a algoritmos e a processos de inteligência artificial não vai substituir os anatomopatologistas, mas sim ajudar-nos no nosso trabalho.” A investigação como elo de ligação

Médica Coordenadora do Serviço de Anatomia Patológica CUF e Adjunta da Direção Clínica da CUF Oncologia Paula Borralho

A afirmação é de Paula Borralho, Coordenadora do na abordagem ao cancro nos hospitais e clínicas CUF. “Hoje em dia o papel do anatomopatologista é muito mais do que o diagnóstico. Além de dizermos se o doente tem um tumor, se esse tumor é maligno e que tumor é, também temos de dar aos nossos colegas oncologistas uma noção da agressividade do tumor.” E acrescenta: “Estamos na era da Medicina personalizada, em que se tenta tratar os doentes com os medicamentos que realmente são adequados e eficazes para cada caso, e precisamos da Anatomia Patológica para perceber se um doente vai responder a uma determinada terapêutica mas não a outra.” A sua missão na CUF Oncologia, bem como a dos seus colegas de equipa, tem sido organizar um serviço que permita rapidez Laboratório e Serviço de Anatomia Patológica da CUF Oncologia: "Não há tratamento em cancro sem um diagnóstico anatomopatológico." A médica não hesita em sublinhar o importante papel desempenhado por esta área MOVIDA A CURIOSIDADE A paixão pela investigação esteve na base da escolha de Paula Borralho pela especialidade de Anatomia Patológica. Uma escolha de que se orgulha e que lhe permite hoje dividir o seu tempo entre três paixões: a Medicina, o ensino e a investigação.

O LABORATÓRIO DE ANATOMIA PATOLÓGICA CUF...

• Recebe mais de 94 mil exames por ano, para análise, sendo um dos maiores laboratórios do país.

Tipo Histologia Citologia Total

44 000 2018 40 608 84 608

2019 49 089 45 612 94 701

Taxa de crescimento

12%

• Tem uma equipa de especialistas com muita experiência e dispõe de tecnologia altamente diferenciada, o que permite uma capacidade de resposta a diagnósticos de cancro até 48 horas .

Catarina Vale

Interna da especialidade de Anatomia Patológica

Foi o Hospital CUF Descobertas a instituição que elegi para o meu internato – a etapa mais desafiante na formação de um médico. É durante esta fase que nos dedicamos ao que nos apaixona verdadeiramente. No meu caso, foi o fascínio imenso pelas grandes questões da Biologia que me havia motivado inicialmente a tornar-me médica. Cedo compreendi que só atingimos a verdadeira satisfação quando as respostas que damos nos permitem fazer a diferença. E é isso que sinto diariamente, desde janeiro de 2019, altura em que iniciei o meu internato em Anatomia Patológica na CUF. A excelência na prestação de cuidados de saúde, a dedicação à formação médica e o reconhecimento da importância da investigação foram as principais razões que me motivaram a escolher a CUF. Todos os dias faço diagnósticos – e aprendo a fazer tantos outros – através do microscópio. Muitos são casos de cancro. Pela importância ainda mais significativa de cada pormenor, confesso que é a área da patologia oncológica que me faz sentir mais realizada. Apesar da detalhada caracterização morfológica – e, muitas vezes, molecular – que fazemos de cada tumor, são raros os doentes que conhecemos pessoalmente. No entanto, e independentemente da distância, conhecemos a sua história através dos oncologistas, cirurgiões e restantes profissionais com quem partilham o seu percurso. Não obstante toda a objetividade que caracteriza a nossa especialidade, é impossível ficarmos indiferentes. Hoje, além do privilégio de ser interna num hospital que pretende formar e atrair os melhores, faço investigação no Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes, na área do cancro do ovário. É aí que satisfaço a minha curiosidade e desafio o desconhecido. Apesar dos seus inúmeros e indiscutíveis avanços, a Oncologia reveste-se ainda de muitas questões por resolver. A minha missão na CUF é aprender a encontrar essas respostas.” Catarina Vale, que escolheu o Hospital CUF Descobertas para realizar o seu internato médico em Anatomia Patológica, partilha a sua missão na CUF. DESAFIAR O DESCONHECIDO

A CUF aposta na formação pré e pós-graduada dos profissionais, tendo idoneidade formativa para formar médicos especialistas de Anatomia Patológica e Oncologia Médica. Esta competência só é atribuída a hospitais com a dimensão e a diferenciação necessárias para garantir uma formação médica de qualidade. SABIA QUE... Este projeto visa identificar alterações específicas em tumores do ovário que constituam biomarcadores preditivos de resposta neste tipo de cancro, utilizando culturas celulares tridimensionais derivadas de tecido tumoral de doentes. Recentemente, a médica recebeu a Bolsa de Investigação Fundação AstraZeneca / Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, e o seu projeto foi selecionado para a semifinal do Prémio MSD de Investigação em Saúde.

EM BUSCA DE RESPOSTAS

Catarina Vale integra a equipa de investigação do Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes, liderada por Maria do Carmo Fonseca desde 2013, e encontra-se atualmente a desenvolver o projeto “Uncovering novel response-predictive biomarkers through patient-derived ovarian cancer organoids” , resultado da parceria entre esta instituição e a CUF Oncologia / Hospital CUF Descobertas.

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CUF ONCOLOGIA | Relatório 2018-2019

As Nossas Equipas

Auxiliar de Ação Médica Cristina Lobato

Os colegas da equipa do hospital de dia chamam-na carinhosamente de “A Governanta”. É a sua segunda casa, o seu refúgio. Aos 39 anos, esta auxiliar de ação médica veio inaugurar o Hospital CUF Descobertas. Já lá vão 18 anos. É com um brilho nos olhos e um sorriso rasgado que nos fala da sua missão. ANTECIPAR, ANTECIPAR, ANTECIPAR!

Na altura em que concorri à CUF também o fiz na Estefânia. A CUF respondeu primeiro e, quando me chamaram da Estefânia, já não quis ir. Vim para a Oncologia e adorei este projeto desde o primeiro momento. Nunca pensei ser auxiliar porque até cheguei a ter o meu próprio negócio, mas a vida dá muitas voltas e, quando o trespassei, não podia estar parada. A verdade é que sempre fui de ajudar e cuidar. Já estava em mim. É uma forma de estar. Para os outros. Ao longo destes anos tenho conhecido pessoas fantásticas, que me têm ensinado tanto, e tenho tido a sorte de contar com uma chefia, a Enfermeira Anabela Lobo, sempre presente. Há 18 anos que é a minha chefe e é uma referência por tudo o que me tem ensinado. Como foram outras pessoas, a começar pelo Dr. Joaquim Gouveia e tudo o que trouxe ao serviço, passando pelo Dr. João Paulo Fernandes e a forma como fala com os doentes, a maneira próxima como trata toda a gente. A minha missão na CUF Oncologia é ir ao encontro das necessidades dos doentes. São todos diferentes e temos de estar lá para todos, na retaguarda. Antecipar, antecipar, antecipar! É preciso estarmos lá para amparar, para uma palavra amiga, um sorriso. Prontos para o que for preciso. Estamos aqui para os doentes. Aquele momento é deles, não é de mais ninguém. Sinto-me mesmo honrada pelo que faço. Sinto também que há gosto naquilo que fazemos. Há respeito entre as equipas. Os outros serviços percebem a nossa urgência e colaboram para que tudo corra bem aos nossos doentes. É uma satisfação muito grande quando os doentes cá voltam depois dos tratamentos, ou passados anos, só para nos dizerem olá e nos darem um abraço.”

"Sinto-me mesmo honrada pelo que faço. Sinto também que há gosto naquilo que fazemos. Há respeito entre as equipas."

Gestora Oncológica Ana Henriques

APOIO CONSTANTE AO DOENTE E À FAMÍLIA Ana Henriques é uma das 12 gestoras oncológicas da CUF Oncologia. Foi também a primeira a iniciar funções no Hospital CUF Descobertas.

Quando comecei, em agosto de 2012, o meu trabalho era dar apoio aos doentes que vinham iniciar os tratamentos oncológicos ao hospital de dia. Hoje, o meu trabalho vai muito além disso. Posso contactar com doentes que estão ainda na fase de determinar o diagnóstico. Preparo toda a documentação para que o seu caso possa ser discutido em reunião multidisciplinar. Tento agilizar ao máximo todo o percurso dos doentes com as diferentes equipas por onde vão passar para que seja um processo fluido, sem grandes tempos de espera e para que as pessoas se sintam sempre o mais acompanhadas possível. Sem dúvida que a minha missão é o apoio e acompanhamento que posso dar ao nosso doente e à família desde o primeiro momento. Existem muitas questões sensíveis que preciso de gerir, de forma a que o doente nunca se sinta perdido. São doentes muito especiais, que nos ensinam muito. É uma enorme satisfação sentir que o dever cumprido recompensa.”

PRINCIPAIS FUNÇÕES DA GESTORA ONCOLÓGICA

• Articulação com os diferentes serviços do hospital para a marcação dos atos clínicos necessários. • Monitorização da realização dos atos clínicos para cumprimento dos tempos protocolados nos diferentes percursos dos doentes. • Articulação com a equipa de Estimativas para providenciar atempadamente aos doentes toda a informação sobre os custos referentes aos atos previstos de diagnóstico, estadiamento e tratamento propostos pela equipa multidisciplinar. • Articulação com entidades externas de forma a suprir alguma necessidade dos doentes e família, relativa ao seu tratamento ou qualidade de vida. • Informação sobre benefícios fiscais dos doentes.

A CUF TEM ACORDOS COM A MAIORIA DAS SEGURADORAS E SUBSISTEMAS DE SAÚDE PARA DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DAS DOENÇAS ONCOLÓGICAS.

Conheça a equipa de Gestores Oncológicos, bem como os respetivos contactos, na página 83.

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CUF ONCOLOGIA | Relatório 2018-2019

#1500razões

Profissionais de saúde e colaboradores da Unidade da Mama CUF de Lisboa (Hospitais CUF Descobertas e CUF Infante Santo)

#1500RAZÕES PARA ESTARMOS PRÓXIMOS

Para assinalar o 12.º aniversário da Unidade da Mama CUF, a primeira Unidade da Mama do setor da saúde privado em Portugal, a CUF Oncologia lançou o programa #1500razões para estarmos próximos, apelando à proximidade entre doentes, cuidadores e profissionais de saúde. E m Portugal, são diagnosticados por ano mais de 6 mil novos casos de cancro da mama. Embora a taxa de sobrevivência seja das mais elevadas em doença oncológica, todos os anos morrem 1500 portuguesas vítimas de cancro da mama. Por isso, existem #1500razões para estarmos próximos, para se falar abertamente

sobre a doença e procurar medidas preventivas. Este programa pretende criar espaços de diálogo e de partilha de experiências, compreender os desafios que as mulheres jovens com cancro enfrentam e procurar responder a estes desafios. No desenvolvimento deste programa estiveram envolvidos médicos, enfermeiros, psicólogos, nutricionistas, gestores oncológicos e jovens mulheres com cancro da mama. Começaram por identificar muitos dos desafios que as mulheres jovens enfrentam, para depois se criar uma agenda focada nesses mesmos desafios. O programa de 2019 consistiu na organização de quatro grandes iniciativas: cinco encontros em cinco cidades, uma maratona tecnológica, um estudo observacional sobre comunicação médico-doente em contexto extra-hospitalar e a ação anual de prevenção e diagnóstico precoce de cancro da mama, promovida pelas Unidades da Mama da CUF Oncologia.

CRIAR

A primeira CUF Hackathon reuniu 40 jovens universitários, durante 24 horas, para a criação de um protótipo de ferramenta digital que apoie doentes e especialistas na gestão do percurso com cancro da mama. "Zerny" foi a equipa vencedora com um projeto sobre deteção e controlo da neutropenia. CUF HACKATHON

COMPREENDER

CINCO ENCONTROS, CINCO CIDADES

No âmbito do programa #1500razões para estarmos próximos, promoveram-se os encontros “Os desafios da mulher jovem com cancro da mama”. Foram cinco encontros em cinco cidades – Coimbra, Lisboa, Porto, Santarém e Viseu –, em formato de conferência, com especialistas de cancro da mama e com a participação ativa de mulheres jovens com cancro da mama que partilharam o seu testemunho e dúvidas. Foram selecionadas cinco temáticas que se constituem como desafios muito reais e que precisam de resposta.

COMUNICAR É CUIDAR CONVERSAR

1 A qualidade de vida conjugal / sexualidade

A comunicação pode aproximar ou distanciar as pessoas, pode alienar ou cuidar. A CUF Oncologia desafiou investigadores do Instituto de Saúde Ambiental da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa a estudar as experiências de comunicação de doentes com cancro da mama e de profissionais de saúde nesta área de intervenção. O estudo decorreu nos Jardins da Gulbenkian e no Hospital CUF Descobertas. Os resultados serão publicados em 2020.

A maternidade e a preservação da fertilidade Um dos principais impactos do cancro da mama na mulher jovem é na maternidade. Por outro lado, os tratamentos para a doença podem afetar a possibilidade de a mulher ter filhos. A imagem corporal e a autoconsideração A mulher com cancro da mama é submetida a um conjunto de tratamentos que vão alterar a sua imagem corporal. O conjunto de momentos associados à doença e os tratamentos realizados para combater o cancro podem fragilizar emocionalmente a mulher e abalar a sua vida familiar e conjugal.

2

3

O impacto no trabalho

4

Quando regressam à vida ativa, por vezes as mulheres pressionam-se a elas próprias para manter o ritmo de trabalho anterior.

5

A vida depois do cancro

Os tratamentos produzem efeitos secundários a longo prazo. Outro dos grandes desafios que encontram é o receio de que o cancro volte.

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CUF ONCOLOGIA | Relatório 2018-2019

#1500razões

Sobrevivente de cancro da mama Vera Nabeiro

VIVER EM PLENO

Vera Nabeiro não hesita em afirmar: depois do cancro, a sua vida mudou para melhor. A confiança que lhe foi transmitida pela equipa de CUF Oncologia, fê-la acreditar sempre num desfecho positivo e hoje aproveita tudo o que a vida tem de bom para dar. com esvaziamento axilar. Passado um ano e um mês sobre o diagnóstico, estava de regresso ao trabalho. Para Vera, a relação que estabeleceu com a equipa que a seguiu foi determinante para o sucesso. “Tive sempre o acompanhamento do Dr. Diogo Alpuim, o oncologista que me segue; da Dra. Catarina, O apoio da família foi essencial ao longo de todo o processo. “Vinha para as quimioterapias descansada porque sabia que o avô ia buscar a minha filha Joana à escola. Que ela chegava a casa e estava lá a avó. Que a seguir o pai ia buscá-la para a levar para casa.” Vera aproveitava também para falar com outras doentes na mesma situação. “Há sempre aquelas que são mais desinibidas e conversamos, ouvimos testemunhos, mas sempre a acreditar que vai correr tudo bem. É bom para dar força umas às outras.” Hoje, Vera continua a apoiar quem se cruza no seu caminho, seja no salão de cabeleireiro ou nas aulas de hidrocycling . “Acompanho, converso, mostro a maminha...”, refere, com humor. “Na piscina tomo banho com as minhas colegas e estou mortinha por que vejam e perguntem, para não haver tabus, para não terem medo.” “Se não tivesse atravessado o que atravessei nunca tinha visto a coisa de outra maneira”, garante. Hoje, além do exercício físico, Vera faz uma alimentação regrada e convive mais com os amigos. “Mudei o meu estilo de vida. Sempre fui uma ‘fada do lar’, mas comecei a pensar: para quê ficar apenas a passar a ferro se também posso ir com a Joana andar de bicicleta? Só precisamos de levar um abanão para perceber que tudo se faz. É que, se tudo correr mal, levamos na alma o que vivemos de bom... e o bom não é passar a ferro!” Tudo isto fê-la acreditar que tinha uma missão contra o cancro e que o desfecho só podia ser positivo. “Só no dia a seguir à cirurgia é que tive medo. Fui à casa de banho, com muita dificuldade, olhei para o espelho e pensei: não sei se te escapas. Mas logo a seguir pensei: Ah, deixa-te disso”, conta. “Tentei sempre mentalizar-me de que estava tudo a ser bem tratado, com médicos excelentes. Pensei: a minha filha nasceu aqui e eu renasci aqui. Era o que me dava força.” Uma vida nova que me fez a cirurgia; do Prof. Manuel Caneira, que me fez a reconstrução; da equipa do hospital de dia... E, mesmo a nível telefónico, sempre que precisei de alguma coisa nas reações às quimioterapias, foram sempre impecáveis.” O resultado foi um conjunto de novas amizades que a fazem sentir “completamente em casa” a cada regresso ao Hospital CUF Descobertas.

O s olhos brilhantes, o sorriso e o ritmo animado de cancro da mama que recebeu em agosto de 2017: “A Dra. Catarina Rodrigues disse que dificilmente me conseguiriam salvar a mama, mas para mim isso não era um problema. O importante era superar e seguir em frente!” Foi o caráter pragmático que fez com que consultasse um ginecologista assim que sentiu um “carocinho”, como o descreve, na mama direita. No dia seguinte à confirmação do diagnóstico, Vera rumou a Lisboa e ao Hospital CUF Descobertas. Iniciou a quimioterapia a 1 de setembro e a 4 de dezembro a mastectomia do discurso não deixam margem para dúvidas: Vera Nabeiro é otimista por natureza e não baixa os braços perante uma batalha. Foi assim que esta cabeleireira, residente no Entroncamento, encarou o diagnóstico "Pensei: a minha filha nasceu aqui e eu renasci aqui. Era o que me dava força."

Cirurgiã Geral e Coordenadora da Unidade da Mama CUF Lisboa Ida Negreiros

Cirurgiã geral, formada no IPO do Porto, com qualificação em Oncologia Cirúrgica pela Sociedade Europeia de Oncologia Cirúrgica, Ida Negreiros trabalha no Hospital CUF Descobertas desde 2007, tendo assumido a coordenação da Unidade da Mama CUF Lisboa em 2014. NÃO SÓ TRATAR O CANCRO, MAS A PESSOA COM CANCRO

Dentro da cirurgia, a Oncologia fascina-me pelos constantes desafios que a doença em si coloca. Do ponto de vista cirúrgico, obriga o cirurgião a conhecer tanto os órgãos que trata como a própria doença. Também obriga à articulação com outras especialidades, num trabalho efetivo em equipa multidisciplinar. Fascina-me igualmente o impacto que as ciências básicas e todo o conhecimento que o laboratório, em sentido lato, tem nas modificações introduzidas na forma como tratamos e nos resultados que obtemos. Tudo isto se aplica ao cancro da mama. Sendo um dos tipos de cancro que mais afetam as mulheres, há muita investigação pré-clínica e clínica. Participar dela é um desafio. Criar condições para que essa participação possa acontecer também. A minha missão na CUF Oncologia divide-se entre a atividade clínica e a coordenação da Unidade da Mama. Enquanto coordenadora, procuro assegurar a qualidade dos cuidados prestados, a uniformização das práticas – seguindo protocolos – e a existência de registos que nos

permitam analisar o que fazemos e planear as alterações a fazer de modo a manter os padrões de qualidade. Procuro ainda assegurar a humanização dos cuidados. Ter quem acompanhe de perto as nossas doentes ao longo de todo o seu percurso é uma das formas de o fazer, muito valorizada pelas doentes. A Unidade da Mama da CUF Lisboa tem elevada percentagem de doentes jovens, que têm necessidades diferentes das doentes com mais idade às quais é preciso dar resposta além do que diz respeito ao tratamento estrito da doença. Em 2019 lançámos o programa #1500razões para estarmos próximos, com o objetivo de alertar e encontrar melhores respostas para os principais desafios desta população mais jovem afetada pelo cancro da mama. Todas estas ações, em conjunto com as qualidades das pessoas da nossa equipa, a qualidade dos equipamentos e o nosso rigor, permitiram que a nossa Unidade fosse certificada pelo referencial da European Society of Breast Cancer Specialists (EUSOMA).”

VANTAGENS DA TOMOSSÍNTESE

Administration), estudos realizados em 2017 revelam que, quando realizada em conjunto com a mamografia 2D, traz:

A Imagiologia Mamária é uma das áreas basilares no diagnóstico preciso das doenças da mama, benignas e malignas, e consequente tratamento da mulher com esta patologia. Com uma equipa clínica especializada nesta área e tecnologia moderna, é possível a realização de todo o tipo de exames, entre os quais a tomossíntese ou mamografia digital direta 3D, uma tecnologia em franco desenvolvimento que se antevê como fulcral no diagnóstico precoce do cancro da mama. Aprovada em 2011 pela FDA (Food and Drug

Redução de 15 a 20% de falsos diagnósticos face à mamografía 2D isolada Acréscimo de informação diagnóstica de 27 a 30% Aumento da taxa de diagnóstico de novos cancros de mama em cerca de 25 a 27%. Desses, 40% já eram invasivos à data do diagnóstico

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CUF ONCOLOGIA | Relatório 2018-2019

Entrevista

Bárbara Parente

UMA VIDA DEDICADA À PNEUMOLOGIA ONCOLÓGICA Escolheu a Pneumologia Oncológica há 30 anos, por esta ser uma área ainda pouco desenvolvida. Ao longo da carreira, Bárbara Parente viu surgir terapêuticas inovadoras que lhe renovam diariamente o fascínio pela profissão. Assume-se como médica 24 horas por dia, 365 dias por ano, mas divide esta sua paixão com duas outras: a família e a natureza.

Pneumologista, Adjunta da Direção Clínica da CUF Oncologia e Coordenadora Norte Coordenadora da Unidade de Cancro do Pulmão a Norte

E como passou da tuberculose para o cancro do pulmão? Sempre sonhei tratar o cancro. Lembro-me de ter 6 anos e de dizer às minhas amigas: “Quando crescer, vou ser médica e tratar o cancro.”Eu sou alentejana, de Grândola, havia muitos casos na vila e eu via as pessoas a morrerem muito rapidamente. Depois entusiasmei-me com a Pediatria, mas optei pela especialidade de Pneumologia. Embora durante os meus cinco anos de internato tenha efetuado toda a minha formação específica geral, que foi da tuberculose, passando por todas as patologias do foro respiratório até ao cancro do pulmão, não foi suficiente. Foi após o final da especialidade que surgiu o projeto da Unidade de Pneumologia Oncologia no Serviço de Pneumologia de Vila Nova de Gaia, porque me apercebi que era uma área em que se fazia ainda muito pouco. Qualquer médico faz o curso para curar e não para ajudar a morrer. E eu via que os meus doentes morriam todos tão cedo que era preciso avançar com qualquer coisa. Na altura não havia grandes desenvolvimentos na área do pulmão, os tratamentos ainda eram só com quimioterapia, com sobrevidas muito curtas. Acabei a minha especialidade e fiz a proposta ao Diretor do Departamento de Pneumologia de Vila Nova de Gaia para que se criasse uma unidade funcional de Pneumologia Oncológica. Isto foi em 1991. Um dia disse ao diretor de serviço: “Mas autoriza ou não que eu abra a Unidade de Pneumologia Oncológica?” E ele, cansado de me ouvir, disse que sim. Era uma sexta-feira e pedi às auxiliares do serviço que me ajudassem a arrumar “a casa”: tirámos tudo de três gabinetes que não estavam a ser utilizados e pus cá fora um letreiro a dizer “Pneumologia Oncológica”. Arrumámos a sala de espera e arranjámos cadeiras para os doentes esperarem. Na segunda-feira o meu diretor de serviço disse: “Bárbara, pintou a manta! Pôs uma unidade a funcionar num fim de semana.” Comecei assim, a partir pedra do zero, com zero doentes. Depois divulguei junto dos centros de saúde, os colegas do hospital foram sabendo e as coisas foram evoluindo. Como surgiu o seu interesse pela área da Pneumologia? Quando fiz o curso de Medicina queria ser pediatra. Durante os dois anos de prática clínica tentei fazer de tudo um pouco. Só não tratei doentes com tuberculose. Mas, no âmbito do Serviço Médico a Periferia, cheguei a Santa Maria da Feira e perguntaram-me se queria ir trabalhar para o Dispensário de Tuberculose. Entrei no Centro de Saúde e pedi para falar com o médico responsável – responderam-me que tinha 35 doentes à espera para tratar, porque o outro médico tinha saído na semana anterior. Fiquei aterrorizada! Eu não sabia nada de tuberculose, mas enchi-me de coragem e vi os doentes todos: os que estavam a fazer tratamentos continuavam, e se era a primeira consulta pedia exames. Saí de lá em pânico e vim para os Dispensários Conde de Lumbrales, no Porto, para aprender. O Dr. Joaquim Castedo e o Dr. António Cabral foram os meus mestres e começaram a dizer-me: “Se você tem tanto jeito para Pneumologia, porque é que há de ir para Pediatria?!” Quando terminei esse ano, decidi que queria ser pneumologista e escolhi o Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia, que era o hospital de tradição pneumológica. Foi então que surgiu o interesse pelos ensaios clínicos? Nem lhe digo como! Início da década de 1990. Muitas dúvidas sobre qual o melhor esquema de tratamento. Pedi a uma colega que percebia de informática que fizesse dois braços de doentes, o A e o B, cada um com

“Lembro-me de ter 6 anos e de dizer às minhas amigas: ‘Quando crescer, vou ser médica e tratar o cancro’.” um esquema de quimioterapia. Com o Hospital de São João e o Hospital dos Covões (todos juntos íamos ter resultados mais rapidamente), começámos a aleatorizar os doentes para perceber que esquema de quimioterapia seria melhor. Entretanto, o serviço foi crescendo, evoluiu e ficou reconhecido. Mais tarde, foi feito o hospital de dia, mesmo em frente da Unidade, onde os doentes eram avaliados. Nenhum doente era visto sem primeiro ser avaliado. Entretanto os tratamentos também foram evoluindo. Só por volta de 2006 é que começámos a ter terapêuticas inovadoras. Mas tem sido apaixonante, porque ao longo da minha carreira as coisas têm-se modificado muito na área da Oncologia. Quando pedi a minha reforma do setor público, pensei: “Agora que me vou embora estão a aparecer fármacos inovadores.” Foi nessa altura que veio para a CUF Porto? Tive este convite da José de Mello Saúde e aceitei com muito gosto. Quando cheguei, usei aqui a mesma metodologia que trazia do Hospital de Gaia. Em 2017 lançou a reunião científica da CUF Atualizações em Cancro do Pulmão. Esta é uma área em que as mudanças surgem rapidamente? Exatamente. Em 2014 já havia muita terapêutica inovadora e eu achava que era necessário fazermos todos os anos uma reunião para poder divulgar e comunicar com outros colegas de outros hospitais.

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CUF ONCOLOGIA | Relatório 2018-2019

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