TERAPÊUTICAS SISTÉMICAS DE ÚLTIMA GERAÇÃO Sofia Braga Coordenadora Científica da CUF Oncologia Coordenadora de Oncologia dos hospitais CUF Cascais e CUF Sintra
O futuro já começou. Classicamente, no passado, o cancro era tratado por cirurgiões que retiravam o tumor. Porém, nem sempre a cirurgia era possível e, mesmo quando podia ter lugar, nem sempre resolvia totalmente a doença. Hoje, nestes casos, falamos de doenças crónicas em que precisamos de recorrer a terapêuticas sistémicas para aumentar cada vez mais a sobrevivência. Inicialmente, existia apenas a quimioterapia, uma estratégia que tinha por base matar as células em divisão e que assumia, erradamente, que as células tumorais estariam todas a proliferar. No entanto, devido à sua toxicidade, sabemos bem que não a devemos utilizar indefinidamente para controlar o cancro. Nos últimos 20 anos, temos evoluído bastante em três domínios da terapêutica sistémica: imunoterapia, terapêutica de precisão e anticorpos conjugados com fármacos. Hoje, decidimos a terapia com base nas características moleculares dos tumores. A imunoterapia – mais precisamente, os inibidores dos checkpoints imunes – mudaram radicalmente o panorama da terapêutica sistémica do cancro. Para se perceber quais os doentes que mais beneficiam desta estratégia terapêutica, avaliamos as proteínas nas células tumorais e imunitárias – e a quantidade de modificações no DNA tumoral. A imunoterapia é muito promissora no melanoma, no carcinoma do pulmão e da cabeça e pescoço, no carcinoma do rim e da bexiga, em raros tumores gastrointestinais e em alguns tumores da mama e ginecológicos. O futuro passa por percebermos as razões pelas quais alguns doentes não respondem à imunoterapia, ou respondem e, depois, a doença progride. Passa também e sobretudo por expandir os tipos de imunoterapia e os cancros em que a usamos, assim como por fazermos com que os tumores sejam mais capazes de estimular a resposta imunológica. As terapêuticas de precisão conseguem aproveitar, geralmente, as alterações genéticas que só existem nas células tumorais e, por esta razão, danificam menos o organismo do doente. Estas terapêuticas dirigidas inibem os mecanismos moleculares de base enzimática que são mais importantes nos tumores do que nas células saudáveis. Não vamos deixar de usar quimioterapia, mas queremos levá-la diretamente até às células tumorais, através de anticorpos monoclonais que são o veículo que transporta o fármaco. E só aí atuar, com os anticorpos a serem conjugados com fármacos. Estes avanços só foram possíveis graças ao caminho trilhado pela investigação de cientistas laboratoriais na biologia celular e molecular, bioquímica e genética. A imunoterapia, inclusivamente, ganhou o Prémio Nobel da Medicina e Fisiologia, em 2018. Os crescentes aumentos de vida, em Oncologia, devem-se, em muito, ao facto de termos terapêuticas cada vez mais eficazes e menos tóxicas.
77 CUF ONCOLOGIA | Relatório 2020-2021
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