O Futuro que nos Desafia
O FUTURO DA CIRURGIA ONCOLÓGICA
Carlos Leichsenring Cirurgião Geral no Hospital CUF Descobertas
O peso global das doenças oncológicas irá continuar a crescer durante as próximas décadas, em resultado do envelhecimento populacional, do aumento da esperança de vida e da persistência de fatores de risco, como o tabaco ou a obesidade. A cirurgia continua a ser um dos pilares centrais do tratamento de vários tumores sólidos, apesar dos múltiplos avanços nas terapêuticas sistémicas. Ainda assim, a necessidade de tratamentos menos invasivos, cost effective e mais seguros, é um imperativo. Temos excelentes exemplos na cirurgia do cancro do reto e do esófago, em que as respostas completas, que possibilitam o desaparecimento do tumor com terapêuticas neoadjuvantes, permitem abordagens menos invasivas e com menos sequelas para o doente. A tecnologia tem vindo, progressivamente, a ter um papel central na metodologia do tratamento cirúrgico. A Robótica é um excelente exemplo disso, com o surgimento, em breve no mercado, de novas versões de robôs mais versáteis e acessíveis. Teremos avanços francos no que diz respeito à autonomia e ao machine learning , com a criação de ferramentas capazes de autonomia própria para tomada de decisões (navegação intraoperatória, construção de anastomoses). Uma das áreas de excelência é a do treino cirúrgico. Longe vão os tempos em que a filosofia “ see one, do one, teach one ” era aceitável. Tal como um atleta de elite, o cirurgião moderno é fruto de muitos anos de treino. O treino exclusivo no bloco operatório está a ser substituído pela simulação, quer de gestos técnicos quer de situações clínicas, com envolvimento de toda a equipa prestadora de cuidados. Esta certificação e recertificação são centrais para a manutenção da qualidade dos cuidados prestados e de melhoria de resultados. Num mundo em constante mudança e evolução, os avanços são muito rápidos e a adaptabilidade e atualização das instituições e do seu corpo clínico são centrais para a otimização de resultados a nível científico, técnico e da gestão de recursos disponíveis. É aqui que um dos maiores desafios surge. Numa era cada vez mais dominada pela tecnologia, esta deve ser, também, avaliada na sua capacidade de melhorar a prestação de cuidados. Deverá ser um auxílio para o cirurgião e não um substituto. Os cuidados de saúde médicos devem basear-se sempre numa relação humana, sendo especialmente verdade no campo da cirurgia oncológica, em que a relação com o doente é íntima e insubstituível.
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CUF ONCOLOGIA | Relatório 2020-2021
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