Uma Resposta à Altura da Pandemia
Nuno Bonito Oncologista dos hospitais CUF Coimbra e CUF Viseu
A possibilidade de que a pandemia levasse a uma quebra de novos diagnósticos – o que veio a confirmar-se – foi alvo de preocupação por parte da CUF Oncologia desde o início, com a aposta num trabalho de consciencialização da comunidade para a necessidade de continuar a recorrer a cuidados de saúde e de não ignorar sintomas. Foi neste âmbito que foi reforçada a Via Verde Diagnóstico de Cancro, cujo objetivo é garantir diagnóstico, estadiamento e início do tratamento do cancro no prazo mais curto possível. “Tivemos doentes que ouviram falar da Via Verde e nos procuraram com o intuito de fazer o diagnóstico. Na mesma semana ou no mesmo dia, rapidamente faziam a consulta, os exames de diagnóstico, o estadiamento e rapidamente tinham o diagnóstico”, recorda Ana Raimundo. Apesar dos esforços, houve uma clara diminuição do número de diagnósticos, traduzida no atual incremento de novos casos. “Os que não foram diagnosticados antes estão a ser diagnosticados numa fase mais tardia e em estadios mais avançados”, afirma a oncologista. Luís Mestre acrescenta: “O que efetivamente mostra que terá havido menos diagnósticos é que neste momento estamos a ter um pico enorme de novos casos.” Um acréscimo que Nuno Bonito, Oncologista dos hospitais CUF Coimbra e CUF Viseu, atribui à diminuição do número de rastreios durante a pandemia. “Houve uma redução de rastreios: 21% no cancro da mama, 12% no cancro do colo do útero e 7% no cancro colorretal. Os riscos de uma diminuição de diagnósticos
A pandemia pode ter levado a que cem milhões de testes de rastreio de base populacional não tenham sido realizados em toda a Europa”, afirma o especialista, para quem a quebra nos diagnósticos também se explica pela diminuição da procura de cuidados de saúde, fruto do medo de contrair o vírus. “Por desinformação e falta de conhecimento sobre a existência de circuitos seguros nas unidades de saúde, verificou-se um adiar da procura de ajuda médica durante a pandemia.” A CUF Oncologia, maior diagnosticador privado de doenças oncológicas do país que, em média, diagnostica 80 novos casos de cancro por semana, registou nessa altura uma quebra acentuada. “Houve uma diminuição de cerca de 20% de diagnósticos. No final do ano de 2020, estava-se já a recuperar, mas, com a nova vaga pandémica no início de 2021, houve novamente uma quebra de novos diagnósticos”, explica, por seu turno, Ana Raimundo. Também a dificuldade em realizar os exames de estadiamentos, essenciais para a definição de uma estratégia eficaz e adaptada à fase e gravidade da doença, aumentou em vários países, influenciando deste modo o tratamento dos doentes. “Na Europa, estima-se que uma em cada duas pessoas com doença oncológica inicial não tenha sido encaminhada para cuidados diferenciados; e que um em cada cinco doentes oncológicos não tenha recebido o tratamento de que necessitava”, sublinha Nuno Bonito.
22 CUF ONCOLOGIA | Relatório 2020-2021
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